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Ano novo, empresa nova
Peça-chave na criação ou fechamento de empresas, o contador deve aplicar os princípios de gestão e inovação na própria carreira.
O início do ano é um período em que muitas pessoas querem colocar em prática as metas empreendedoras e aplicar resoluções. Abrir um negócio próprio e fazê-lo crescer faz parte dos objetivos, mas muitas vezes a tentativa já esbarra em dúvidas na hora de planejar. Quais os trâmites legais? Como começar? Quem procurar? Qual projeto tem mais chances de dar certo? A falta de conhecimento sobre como proceder, muitas vezes, faz com que dezenas de empreendedores em potencial desistam antes mesmo de dar os primeiros passos. Prova disso é que quase metade das empresas abertas no Brasil fecha antes de completar dois anos de existência, segundo pesquisa do Sebrae. A informação denota o que a maioria já sabe: é preciso muito mais do que uma boa ideia para empreender um negócio.
“Se uma empresa não vai dar certo, é melhor descobrir isso antes mesmo de abri-la”, sentencia a supervisora da Gerência de Empreendedorismo e Inovação do Sebrae-
RS, Viviane Ferran. Para ela, o primeiro passo para quem quer se aventurar no mercado e gerenciar a vida profissional é fazer um plano. “Muitas pessoas acham que essa é mais uma etapa chata a ser cumprida e querem evitar a burocracia. Mas ela é fundamental, pois ajuda a avaliar e verificar as oportunidades”, afirma. Os principais empecilhos enfrentados são a falta de capital de giro, seguida da escassez de clientes e problemas financeiros. “Não basta ter boas ideias, força de vontade e determinação. Além de tempo e dinheiro, o empreendedor precisa de preparo, suporte e planejamento”, afirma.
Viviane alerta que é preciso abandonar a euforia inicial de ser empreendedor para ir além de uma visão superficial e pensar na operacionalização. “É importante verificar se há mão de obra disponível, se a matéria-prima é suficiente, se o preço final fica muito caro”, explica. Analisar as outras questões atreladas à parte contábil e gerencial também ajuda a perceber se o negócio tem chances de sucesso e, se for o caso, revisar a estratégia ainda no começo da empreitada.
E foi justamente a mudança de rumos que garantiu sucesso aos combinados de salmão do Sushi by Cleber, que estavam com os dias contados. Não fosse a união de esforços dos irmãos Vital, a ajuda do Sebrae e a presença de bons contadores, o restaurante japonês fecharia suas portas. Criado pelo sushiman paulista Cleber Vital (ex-proprietário do Saikô), em 1995, o restaurante esteve à beira da falência devido à falta de planejamento e de uma boa gestão orçamentária. A presença do irmão Ismael Tiger Vital na administração do negócio, associada a sua participação no curso Empretec, do Sebrae, em outubro de 2004, mudou o rumo do negócio. Ismael aplicou no restaurante do irmão Cleber o que aprendeu, incluindo noções de planejamento, gestão, metas e controle de fluxo de caixa. Na gestão interna, ele dividiu tarefas, reorganizou funções, revisou fornecedores e conseguiu, com a ajuda de uma equipe de contadores, sanear as finanças do empreendimento. “O restaurante ia quebrar, estávamos com contas atrasadas e uma desorganização interna muito grande. Em três anos, nós sextuplicamos o faturamento”, orgulha-se.
Atualmente, Ismael toma conta da parte administrativa, financeira, marketing e recursos humanos, enquanto Cleber e seus três primos fazem sushi. A divisão de tarefas, na opinião dele, foi um dos passos essenciais para o sucesso da casa que, há 15 anos, serve as iguarias aos porto-alegrenses. “O segredo para o negócio dar certo é você ter perfis que se complementam. Cada um desempenha seu papel dentro do restaurante”, afirma.
A participação no Empretec foi decisiva para mudar a perspectiva sobre negócios. “Essa experiência fez descobrir quais tinham sido meus erros anteriores.” Já o irmão Cleber trabalhou em um restaurante, depois abriu o Saikô, com outros sócios, até que decidiu ter seu próprio negócio. “Ele preparava os sushis, distribuía panfletos, era o responsável pela tele-entrega, depois abriu as portas da garagem, comprou 16 cadeiras e ficou esperando passar alguém”, relembra Ismael. A propaganda boca a boca e a divulgação pela rede de relacionamentos na internet foi o que determinou a durabilidade do empreendimento, mesmo com as contas desajustadas.
Ismael destaca que a presença dos contadores é fundamental para saber como vai financeiramente a empresa, mesmo que a decisão final sobre os rumos do empreendimento seja sempre do dono da empresa. “Por mais que o contador nos alerte, o empreendedor é cabeça dura e vai usar os dados fornecidos para tomar as decisões que achar convenientes.”
A história do Sushi By Cleber mostra que, além de empreender, é preciso ter muita atenção à gestão do negócio. “O empreendedor tem uma visão de inovação e de oportunidade, gosta do que faz e está sempre aprendendo. No entanto, o empreendedorismo não se ensina, se aprende na prática.”
Os sete passos para abrir um negócio
1. Informações básicas para abrir a empresa: Definição do tipo de empresa, modelos de participação, situação do titular ou do(s) sócio(s), nomes, capital social, atividades e cópias de documentos.
2. Consultas prévias: Verificar a situação dos sócios, pesquisar o nome da futura empresa, pedir o boletim informativo do imóvel onde o negócio irá funcionar, consultar licenças necessárias. É necessário prestar atenção às principais consultas prévias, que são Receita Federal, Junta Comercial do Rio Grande do Sul, Secretaria Estadual da Fazenda do Rio Grande do Sul, Secretaria Municipal da Fazenda de Porto Alegre, Secretaria Municipal da Produção Indústria e Comércio. Informe-se também sobre Lei Complementar 123/06, Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, Cartilha do Novo Código Civil, Simples Nacional e Código de Defesa do Consumidor.
3. Registro do contrato social ou Requerimento de Empresário: O contrato entre os sócios é o instrumento que regerá a empresa, mostrando as responsabilidades, direitos e deveres de seus membros e de terceiros.
4. Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica: O CNPJ é um cadastro obrigatório para toda empresa, expedido pela Receita Federal. Sem ele, a empresa está impedida de abrir conta bancária, realizar compras de fornecedores, emitir nota fiscal, participar de licitações e obter registros.
5. Inscrição Estadual e Municipal: A Inscrição Estadual é expedida pela Secretaria Estadual da Fazenda. O documento é obrigatório para empresas dos ramos do comércio, indústria e serviços de telefonia, distribuição de energia elétrica, transportes interestaduais e intermunicipais.
6. Registro do alvará: Inscrição da empresa na prefeitura do município para fins de obtenção do Alvará de Funcionamento. No caso de Porto Alegre, por exemplo, o documento é concedido pela Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic).
7. Registro em Sindicatos: A legislação sindical em vigor no Brasil estabelece a necessidade de coordenação, proteção e representação legal de categorias econômicas ou atividades exercidas pelas empresas. Cada atividade empresarial possui a sua representação sindical. Identificando a atividade principal da empresa, é definido também qual o sindicato correspondente a ela. Para esta entidade é recolhido, anualmente, o imposto sindical patronal.
fonte: sebrae
Inovação também passa pela área contábil
Para que um negócio se fortaleça e se torne saudável economicamente, o trabalho do contador é fundamental. Afinal, os registros irão fornecer informações sobre custos, giro de capital e dos encargos e tributos. O profissional participa do desenvolvimento da empresa desde sua constituição, acompanhando o registro na Junta Comercial ou no cartório civil e providenciando a regularização em vários órgãos, como Receita Federal, INSS e prefeitura.
Nesse contexto, a contabilidade também deve ser vista como ferramenta de gestão, para que possa projetar os resultados da empresa a partir de metas. O contador tem como desafio oferecer as ferramentas para contribuir com planejamento, com informações rápidas e corretas, na velocidade dos negócios, diminuindo as chances de perda.
Para o contador Tiago Jacobsen, da TDF Contabilidade, a categoria está se transformando no quesito inovação. Os profissionais estão em uma constante busca por atualização, interação e avanço tecnológico (integração entre sistemas, internet, suporte, ferramentas de gestão, trainee e facilidade de relacionamento humano). Um contador empreendedor, para ele, tem como imagem sua própria empresa, as dificuldades e as conquistas do dia-a-dia, experiências que contribuem para o desenvolvimento de sua carteira de clientes.
“O papel do contador é essencial desde o início de uma empresa”, reforça Viviane Ferran, da Gerência de Empreendedorismo e Inovação do Sebrae. Para ela, um profissional da contabilidade é aquele que irá decodificar as necessidades burocráticas e traduzir essas ferramentas para o empreendedor. Para fazer uma empresa ser sustentável financeiramente, não há mágica. Porém, os anos de experiência e a prática com o treinamento de equipes mostraram a Viviane que a inovação associada a comportamento empreendedor, gestão e planejamento tem mais chance de levar uma iniciativa ao sucesso.
Planejamento é fundamental
Estreante no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, a casa noturna Divina Comédia teve um início facilitado pela estratégia dos sócios Estevão Zalazar, Sandro Salgado e Marcelo Cabral Correa. Realizado o planejamento orçamentário, os proprietários decidiram facilitar os trâmites burocráticos e compraram a empresa que já existia antes no local, dessa forma, o alvará e os registros já estavam prontos e foi feita uma economia de tempo de dois a três anos. A procura por um bar novo vinha há mais de três anos. Há três meses, eles encontraram o local.
Para Zalazar, a expansão veio de uma necessidade pessoal e profissional de crescimento e da visualização de oportunidade para o mercado do entretenimento. “Quem determina o rumo dos negócios é a lei da oferta e da procura”, assegura. Em um mês, toda a documentação ficou pronta. Segundo Zalazar, para fazer um empreendimento dar certo é preciso observar como premissa básica a questão da qualidade. “Além de cuidar da estrutura interna, produto e atendimento, no ramo da noite é preciso ter criatividade”. Como em boa parte de restaurantes e bares noturnos, a parte de contabilidade da empresa é terceirizada, para que os empresários não tenham que se preocupar com os aspectos financeiros.
Zalazar espera que seu contador esteja sempre atualizado, para que ele e seus sócios possam se ocupar com a qualidade do serviço que oferecem. Como empreendedores, não podem deixar de dar atenção a nenhum detalhe. “A proposta estética do bar, o estilo musical, o espaço da casa, a localidade, o conhecimento de mercado, o alimento, a bebida, a divulgação, tudo deve ser observado para que nosso negócio seja sustentável.”
Responsável pelo sucesso do bar Paraphernália, que está há sete anos no mercado, ele já viu fechar outro bar, o Sierra Maestra, que teve uma decadência devido a problema de gestão e falta de acompanhamento das mudanças do cenário político e social de Porto Alegre. “O empreendedor deve mudar junto com o mercado”, afirma.
Fechar empresas é mais complicado do que abrir
Com as facilidades trazidas pelas novas tecnologias e pela modernização dos órgãos do fisco, hoje está mais fácil abrir do que fechar uma empresa. A afirmação é do professor e coordenador do curso de Administração da ESPM-RS, Antônio Ricardo Monteiro Marinho. Segundo ele, é fundamental ter clareza sobre o que se quer com a empresa, pois as obrigações serão cobradas mesmo que a companhia esteja inoperante.
Entre os fatores que dificultam o fechamento de uma empresa estão o extravio de documentos e a falta de entrega de obrigações acessórias, e, sem estar em dia com o Fisco, não se pode abrir uma nova empresa.
O professor afirma que o contador ainda é visto por muitos empreendedores como um controlador do Fisco e que essa visão parcial do profissional contábil resulta no uso inadequado das informações. “Ao lado de um contador capacitado, o empreendedor tem muito mais chances de ver seu negócio crescer de forma sustentável. A qualidade de informação vai ajudar a evitar problemas futuros.”
Segundo Marinho, quem lida com negócios costuma ser inquieto e não levar em consideração o que diz o contador. “O empreendedor ganha muito, mas também perde muito. É importante tentar mostrar a ele a importância dos números e dos controles e criar uma cultura do uso de sistemas e ferramentas de gestão.”
Marinho aponta que um dos erros clássicos cometidos pelos brasileiros é achar que se sabe administrar sem ter qualificação técnica. “A gestão empresarial hoje é uma área tão técnica quanto a medicina ou a engenharia. Muitos acham que, para administrar, basta bom senso, mas a questão é muito mais complexa.”
A falta de planejamento, dificuldade de negociação e desconhecimento do cliente são algumas das causas que levam as empresas a fecharem antes do tempo, conforme aponta a supervisora da Gerência de Empreendedorismo e Inovação do Sebrae, Viviane Ferran.
Outros aspectos são a falta de conhecimento da gestão, ausência de fluxo de caixa, falta ou atraso de pagamento e estabelecimento equivocado de preço de venda.
Tecnologia ajuda a diminuir a burocracia durante os trâmites
A informatização dos procedimentos contábeis foi um dos fatores que facilitou a vida dos contadores e ajudou a diminuir a burocracia na hora de abrir uma empresa. Entre os aspectos que foram facilitados com as novas tecnologias estão os procedimentos e a homologação dos registros, que, na maioria das vezes, são realizados pela internet.
Segundo o sócio da TDF Contabilidade Tiago Jacobsen, hoje o prazo para registro de uma empresa no Estado demora até 15 dias úteis, o que foi possível por meio de convênios firmados entre União, Estado e município. “Acredita-se que o prazo fique ainda menor.”
Alguns empreendedores que têm o olhar muito focado na lucratividade e no resultado costumam encontrar algumas dificuldades para lidar com o gerenciamento das contas. Nesse sentido, Jacobsen destaca que os principais desafios do empreendedor iniciante são entender a quantidade de impostos que incidem sobre suas operações, organização financeira e adequação de um sistema do porte da empresa. “O empreendedor tem como objetivo desenvolver suas atividades com lucratividade, mas para isso necessita planejar-se.”
O contador ressalta ainda que, no inicio de um relacionamento com o escritório contábil, é importante o aproveitamento das tecnologias disponíveis, dadas entre integração dos sistemas financeiro e contábil.
E se falar em empreendedorismo soa estranho para os que lidam com números, contas e balanços, Jacobsen esclarece que o contador deve apropriar-se das tecnologias disponíveis e ir além do livro-caixa, tornando-se peça-chave na administração. “Sendo a contabilidade uma ferramenta de gestão, o contador passa a ser um dos responsáveis junto aos gestores administrativos pela tomada das decisões estratégicas da empresa, nas áreas societária, fiscal, de recursos humanos, pessoal e contábil.”
Como administrar o fim
O contador Charles Tessmann, diretor-geral da T&ssmann Assessoria Empresarial, explica as principais causas e dificuldades do encerramento de empresas.
JC Contabilidade - Quais as razões de fechamento?
Charles Tessmann - Se antes a ineficiente gestão empresarial, grande carga tributária e a alta concorrência nacional eram os grandes vilões do mercado, hoje se somam a esses o ingresso de empresas globais, alto investimento nas ferramentas de TI e a necessidade do alto poder de mudanças e inovações.
Contabilidade - Quais as dificuldades nos trâmites?
Tessmann - O fechamento de uma empresa está diretamente ligado ao nível institucional e organizacional desta. Para ser extinta, ela não pode possuir débito constituído, seja ele fiscal, trabalhista, comercial ou judicial. É preciso comprovar através de Certidões Negativas de Débitos (CNDs), nos âmbitos federal, estadual e municipal.
Contabilidade - Qual a dica para um fechamento sem complicações?
Tessmann - A empresa, desde a sua constituição, deve ser dirigida de forma empreendedora e responsável, tendo durante o período de sua existência cumprido a razão e objetivos de sua criação, para que o encerramento seja feito de acordo e dentro dos prazos e trâmites legais; além, é claro, da escolha de um profissional capacitado.
Contabilidade - Onde os empreendedores estão errando?
Tessmann - Saber e entender a atividade escolhida já não basta no mercado, ficando o empresário obrigado a investir no capital humano e em ações inovadoras, agregados ao alto nível de gestão empresarial. Trabalhar com as pessoas certas, captar e fidelizar os clientes, dispor de uma boa estratégia de marketing e possuir excelência na atividade exercida também é essencial.